Relatório publicado no início de setembro pela BirdLife International informa que foram extintos nos últimos dez anos, 8 espécies de aves no mundo, sendo que cinco são endêmicas do Brasil.
São elas: a Ararinha azul (Cyanopsitta Spixii), Caburé-de-pernambuco (Glaucidium mooreorum), Gritador-do-nordeste (Cichlocolaptes mazarbarnetti), Limpa-folha-do-nordeste (Philydor novaesi) e Arara azul pequena (Anodorhynchus glaucus).
O problema da extinção no ambiente natural coloca em evidência os programas de reintrodução da fauna nas áreas antes ocupadas pelas espécies extintas a partir de exemplares mantidos em zoológicos ou criadouros particulares. É o caso do projeto de reintrodução da Ararinha azul no sertão da Bahia a partir de pouco mais de dez exemplares que se encontram no país. Há hoje, uma população suficiente em cativeiro, totalizando 152 indivíduos, incluindo, aqueles que estão em viveiros da Alemanha e Singapura, o que permite a tentativa de povoação na natureza sem o risco de extinção definitiva.
As técnicas de reintrodução da fauna vêm tornando possível a recuperação de espécies emblemáticas em todo o mundo, corrigindo de certa forma, os erros cometidos pelos humanos que são os responsáveis pela atual onda de extinção.
Há muitos casos de sucesso a serem descritos, mas o mais marcante de todos foi o retorno à sua terra de origem do único cavalo verdadeiramente selvagem existente – O Cavalo de Przewalskii (Equus ferus przewalskii), cujos antepassados jamais foram domesticados pelo homem. A partir de poucos exemplares existentes em zoos europeus foi iniciado um programa de reprodução controlada com resultados positivos. O aumento do número de cavalos em cativeiro possibilitou o programa de soltura controlada nas estepes da Mongólia. Em 1992, foram soltos 15 exemplares que se reproduziram com sucesso e hoje totalizam mais de 150 cavalos vivendo em liberdade.
A volta do Condor da Califórnia (Gymnogyps californianus) à natureza no oeste dos Estados Unidos, representou uma vitória daqueles que sustentam a validade de se manter a reprodução em cativeiro até que se consiga uma população viável para a reintrodução sem colocar em risco a existência da espécie. O Programa de recuperação do Condor da Califórnia teve início a partir da captura, em 1987, de todos os 27 condores em liberdade para dar início à criação em cativeiro. Em 1991, iniciou-se a soltura de exemplares na Califórnia, em seguida no Arizona e em 2002 na Baixa Califórnia, no México. Atualmente, existem cerca de 400 condores, sendo que metade deles em vida selvagem. A destacar, que o número de exemplares vivendo em liberdade supera os que se encontram em zoos.
Outro ambicioso projeto está sendo desenvolvido pelo World Wildlife Fund – WWF, juntamente com o governo do Cazaquistão para a reintrodução do Tigre siberiano (Panthera tigris altaica) nesse país asiático. O animal estava extinto na região há 70 anos. O início da reintrodução está prevista para este ano e será custeado pelo WWF, que destinará 10 milhões de euros ao projeto.
A reintrodução em ambiente selvagem do lobo cinza mexicano (Canis lúpus baileyi) vem sendo comemorada na América do Norte, como mais um caso de sucesso de recuperação de fauna a partir de exemplares mantidos em zoos. O lobo cinza mexicano foi extinto nos Estados Unidos e México. No final da década de 1970, foram capturados os últimos sete exemplares em liberdade para manejo em cativeiro e posterior soltura controlada. Hoje, há 50 lobos soltos na natureza e mais de 300 em cativeiro. Todos os lobos mexicanos atuais são originários daqueles sete indivíduos iniciais.
O importante na reintrodução da fauna é a espécie liberada recuperar a função que tinha quando vivia livremente. Exemplo disso, é o caso do lobo cinza americano (Canis lúpus) reintroduzido com êxito no Parque Yellowstone em 1995, depois de 70 anos ausente. Sem o lobo, as áreas de matas do parque foram convertidas em pastagens. Na ausência do lobo, os herbívoros aumentaram desproporcionalmente seu número e provocaram o processo de diminuição da vegetação. Com a volta do lobo e com o passar dos anos a mata renasceu, e com ela suas funções ecossistêmicas.
Um problema frequente na reintrodução de fauna em seu ambiente natural é a questão mais ampla de preservação ou restauração do meio ambiente. É um problema presente na reintrodução do Mutum de Alagoas (Mitu mitu) iniciado no ano passado, após ter desaparecido do ambiente selvagem há mais de 30 anos. O maior desafio, contudo, foi encontrar uma área para a soltura, pois o desaparecimento da ave ocorreu, principalmente, devido à caça e à destruição de seu ambiente natural, que deu lugar ao plantio da cana-de-açúcar. Atualmente, existem cerca de 300 exemplares em cativeiro que se originaram de três casais capturados há 43 anos.
A reintrodução da fauna deve ser vista como uma medida temporária, pois o ideal é que a consciência social compreenda que é muito mais econômico proteger o meio ambiente que reconstrui-lo. Até atingirmos esse estágio de civilidade, a reintrodução da fauna continuará sendo uma das mais importantes medidas para impedir que desapareçam, em definitivo, muitas espécies emblemáticas na natureza.
Fonte: Pensamento Verde